Por detrás do sorriso
de Mona Lisa
Naquele dia,
que parecia igual a tantos outros, observava Mona Lisa pelas fortes pinceladas
em sfumato de Leonardo Da Vinci, no
Museu do Louvre, numa das minhas frequentes e exaustivas mas encantadoras
viagens pela Europa, em busca de entender melhor a arte dos nossos antepassados
renascentistas.
Mona Lisa sempre me intrigou. A leve
curvatura da sua boca não coincidia com os seus olhos serenos. Estaria a sorrir
ou indignada com o seu pintor? Enraivecida na sua representação ou embevecida
pelos fortes traços de Leonardo? Estas perguntas pairavam frequentemente na
minha confusa cabeça de artista.
Observava com atenção cada tom
utilizado quando desmaiei em frente àquela obra de arte, aterrando no tosco
chão de madeira do tão afamado museu. Entrei num sono profundo acompanhado de
um místico sonho incrivelmente mágico. Via passar épocas marcantes da pintura,
escultura e arquitectura, pintores importantes como Vermeer e quadros
fascinantes como a “Rapariga do Brinco de Pérola” ou a inigualável “Última
Ceia”. Sentia-me ser puxada por mágicas raízes como no Beijo de Gustav Klimt.
Flutuava nas límpidas águas onde Monet deu vida a seus nenúfares. Fazia-se
sentir uma brisa numa “Noite Estrelada” de Van Gogh e vibrava com a emoção
transmitida na “Ronda Noturna” de Rembrant.
Acordei numa movimentada rua de
Anchiano, em Itália. Comerciantes vendiam os seus frescos produtos, ao longe
ouviam-se profundos cânticos e no meio daquela barulhenta multidão, uma mulher
de extrema beleza. Que faria ali aquela mulher de aspeto imponente e ar
distante?
Com um olhar revoltado, fugia
apressadamente por uma sombria rua perpendicular. Corria sem olhar para trás e,
na emoção, corri também em busca de respostas para aquela repentina fuga. Sem
perder a bonita rapariga de vista, andei em passo de marcha, para ninguém me
ver e sabotar o esconderijo daquela desconhecida que me transmitia uma intensa
conexão.
Quando dei por mim, parei, com a
respiração ofegante numa casa com um bonito jardim, uma cúpula com oito óculos
laterais e um óculo no topo, por onde a quente e forte luz do Sol penetrava e
dava um tom amarelado àquela decorada sala. Rapidamente reconheci a dona
daquela beleza e o morador daquela espantosa casa. Mona Lisa deu um novo
sorriso a Leonardo Da Vinci. Os seus olhos encantaram-se com os seus longos
cabelos negros e a sua ocupada cabeça de novas invenções, ocupara-se agora do
olhar da doce rapariga.
Mona Lisa pediu para que não a
denunciasse. Iria fugir de Anchiano nos próximos dias e não queria ser
encontrada. Loucamente apaixonado, prometeu-lhe tudo o que pedira com uma
condição: pintar o seu mais belo retrato. Assim acordaram que o seu verdadeiro
nome não seria revelado, mais tarde chamada de Mona Lisa, que significa mulher
sorridente, como Da Vinci a gostava de relembrar. As suas expressivas
sobrancelhas não seriam retratadas na pintura de modo a que ninguém pudesse
entender o que sentira naquele momento. Leonardo aceitou todos os seus desejos
e prometeu sigilo até aos seus últimos dias de vida.
O pintor parecia apaixonado pelos
traços do rosto da sua modelo e, sem poder fazer perguntas, apercebi-me de que
Mona Lisa era uma mulher muito cobiçada pelos homens da cidade e que ansiava
conhecer os recantos da bela Europa.
Num suspiro, acordei ofegante do meu
sonho, sem perceber de onde vinha e o que tinha acontecido. Recordava cada
detalhe daquele mágico e estranho sonho e escrevi-o no meu diário gráfico, onde
desenhava, colava, pintava e descrevia tudo que me transmitia inspiração.
Aquele sonho mudou a minha vida e forma de pensar. Agora compreendo que tinha inevitavelmente, de ter acontecido.
Ana Carolina Pires Caldeira Nº3 8ºA
Ano letivo 2019/2020