quarta-feira, 25 de março de 2020

Escrita criativa


Por detrás do sorriso de Mona Lisa

            Naquele dia, que parecia igual a tantos outros, observava Mona Lisa pelas fortes pinceladas em sfumato de Leonardo Da Vinci, no Museu do Louvre, numa das minhas frequentes e exaustivas mas encantadoras viagens pela Europa, em busca de entender melhor a arte dos nossos antepassados renascentistas.
Mona Lisa sempre me intrigou. A leve curvatura da sua boca não coincidia com os seus olhos serenos. Estaria a sorrir ou indignada com o seu pintor? Enraivecida na sua representação ou embevecida pelos fortes traços de Leonardo? Estas perguntas pairavam frequentemente na minha confusa cabeça de artista.
Observava com atenção cada tom utilizado quando desmaiei em frente àquela obra de arte, aterrando no tosco chão de madeira do tão afamado museu. Entrei num sono profundo acompanhado de um místico sonho incrivelmente mágico. Via passar épocas marcantes da pintura, escultura e arquitectura, pintores importantes como Vermeer e quadros fascinantes como a “Rapariga do Brinco de Pérola” ou a inigualável “Última Ceia”. Sentia-me ser puxada por mágicas raízes como no Beijo de Gustav Klimt. Flutuava nas límpidas águas onde Monet deu vida a seus nenúfares. Fazia-se sentir uma brisa numa “Noite Estrelada” de Van Gogh e vibrava com a emoção transmitida na “Ronda Noturna” de Rembrant.
Acordei numa movimentada rua de Anchiano, em Itália. Comerciantes vendiam os seus frescos produtos, ao longe ouviam-se profundos cânticos e no meio daquela barulhenta multidão, uma mulher de extrema beleza. Que faria ali aquela mulher de aspeto imponente e ar distante?
Com um olhar revoltado, fugia apressadamente por uma sombria rua perpendicular. Corria sem olhar para trás e, na emoção, corri também em busca de respostas para aquela repentina fuga. Sem perder a bonita rapariga de vista, andei em passo de marcha, para ninguém me ver e sabotar o esconderijo daquela desconhecida que me transmitia uma intensa conexão.
Quando dei por mim, parei, com a respiração ofegante numa casa com um bonito jardim, uma cúpula com oito óculos laterais e um óculo no topo, por onde a quente e forte luz do Sol penetrava e dava um tom amarelado àquela decorada sala. Rapidamente reconheci a dona daquela beleza e o morador daquela espantosa casa. Mona Lisa deu um novo sorriso a Leonardo Da Vinci. Os seus olhos encantaram-se com os seus longos cabelos negros e a sua ocupada cabeça de novas invenções, ocupara-se agora do olhar da doce rapariga.
Mona Lisa pediu para que não a denunciasse. Iria fugir de Anchiano nos próximos dias e não queria ser encontrada. Loucamente apaixonado, prometeu-lhe tudo o que pedira com uma condição: pintar o seu mais belo retrato. Assim acordaram que o seu verdadeiro nome não seria revelado, mais tarde chamada de Mona Lisa, que significa mulher sorridente, como Da Vinci a gostava de relembrar. As suas expressivas sobrancelhas não seriam retratadas na pintura de modo a que ninguém pudesse entender o que sentira naquele momento. Leonardo aceitou todos os seus desejos e prometeu sigilo até aos seus últimos dias de vida.
O pintor parecia apaixonado pelos traços do rosto da sua modelo e, sem poder fazer perguntas, apercebi-me de que Mona Lisa era uma mulher muito cobiçada pelos homens da cidade e que ansiava conhecer os recantos da bela Europa.
Num suspiro, acordei ofegante do meu sonho, sem perceber de onde vinha e o que tinha acontecido. Recordava cada detalhe daquele mágico e estranho sonho e escrevi-o no meu diário gráfico, onde desenhava, colava, pintava e descrevia tudo que me transmitia inspiração. Aquele sonho mudou a minha vida e forma de pensar. Agora compreendo que tinha inevitavelmente, de ter acontecido. 
Ana Carolina Pires Caldeira Nº3 8ºA
Ano letivo 2019/2020

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